- Mariuccia Ancona Lopez
Cozinhando na Lapônia

Cozinhando com os Sami, em Kiruna
Acreditem: esta foi uma das mais fantásticas experiências de viagem que já tive. A informação desta atividade, em pleno Cículo Polar Ártico, encontrada na internet, dizia pouca coisa além do título: Sami Cooking Experience.


Como eu e minha filha (companheira perfeita de tantas viagens!) gostamos de cozinhar e de conhecer novas culturas – inclusive gastronômicas – reservamos esse passeio para nossa estadia em Kiruna, a cidade mais ao Norte da Suécia, exatamente nas coordenadas 67º50’57’’, na chamada Lapônia sueca.
Meia hora de estrada nevada e estávamos lá. A comunidade Sami - etnia que vive desde tempos ancestrais no Círculo Polar Ártico, entre Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia – é pequena. Também chamdos de lapões, esse grupo indígena da Europa soma por volta de 70 000 pessoas, das quais 17 000 vivem na Suécia. Esta família que nos recebeu dedica-se, além da criar renas, a comercializar produtos derivados do animal , artesanato e também a algumas atividades de turismo como passeios guiados pelas florestas, a cavalo e essa experiência culinária.
Kerstin (fala-se Xexstin) nos recebeu para uma primeira conversa onde falou sobre a etnia Sami, seus hábitos, história, instrumentos e objetos enquanto degustávamos salame de rena. Bem bom, por sinal.
Então começamos a cozinhar. A mim coube preparar o queijo e à minha filha, o pão. Enquanto o pão fermentava e o queijo esperava pelo tempo certo para coalhar, preparamos geleia de blueberries selvagens, pequeninas e super doces, e blood pancake.
Isso mesmo: panquecas feitas com manteiga , farinha, água e sangue de rena. Muita gente faz careta e fica horrorizada com a idéia mas a eles lembro do chouriço, do black pudding, da galinha ao molho pardo...onde este ingrediente é apenas a proteina do prato. E as tais panquecas são bem saborosas , sem qualquer mínima lembrança do seu ingrediente.

Massa do pão crescida, queijo enformado, fomos à cabana típica dos Sami onde uma fogueira nos esperava para a finalização do almoço: o pão foi aberto com rolo e assado na chapa quente, as panquecas fritas em manteiga e servidas com lingonberry, uma das frutinhas da região e a carne de rena frita em tirinhas, na manteiga, servida sobre o pão, num delicioso wrap.
Kerstin ainda ferveu apenas com água e sal um pedaço de rena para fazer um caldo, o “bouillon” absolutamente delicioso. Pergunto qual o mistério de tanto sabor neste caldo e a resposta é a alimentação natural das renas que vivem soltas nas florestas. Comem liquens e muitos cogumelos. Está aí o segredo.
Para terminar o almoço, queijo derretido no fogo, servido com a geleia que eu havia preparado e o cheese coffee, café com pedacinhos de queijo.
Depois dessa experiência inesquecível, uma alegria extra: o céu incrivelmente azul, o sol já baixo no horizonte, pouco antes da quatro da tarde e os belos cavalos dos Sami. Cenário de cinema para as fotos